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40 anos de Fotografia

 

Antecedentes 

 
 Meu pai era um bom fotógrafo amador. Uma cena comum, em casa, era vê-lo fotografando filhos, sobrinhos, netos, amigos. Tínhamos também muitos álbuns de fotografias – no meu, a primeira foto tinha escrito em baixo: “10 minutos de nascido”, e isso em 1944! Certamente, essas referências me foram importantes, mas sua influência não foi direta, pois meu pai morreu quando eu tinha 11 anos.
Quem herdou o interesse por fotografia foi um irmão mais velho, o Joaquim, que se tornou também um excelente fotógrafo amador. Foi ele quem iniciou, na fotografia, os irmãos mais novos, o Maurício e eu, quando já éramos, ambos, professores de inglês. No meu caso, foi assim: cursando o segundo ano de Letras na Universidade Federal do Ceará, ganhei uma bolsa de viagem de seis semanas nos Estados Unidos, e o Joaquim me ofereceu emprestada sua câmera fotográfica, uma Voightlander 35mm com fotômetro e telêmetro, equipada com uma objetiva Zeiss Tessar, mas teve que insistir para que eu aceitasse levá-la comigo. Ele comprou o filme e me deu instruções básicas no aeroporto. O resto é história: desde a primeira foto – a asa do avião – aos 600 slides com que voltei 45 dias depois, foi paixão ao primeiro click! Tinha descoberto o que eu queria, realmente, fazer na vida. Logo vieram minha primeira câmera e um laboratório preto e branco completo comprado de um Voluntário da Paz americano e, em seguida, os primeiros trabalhos e as primeiras fotos de curtição. São dessa época as fotos da chuva e as paisagens de praia que ilustram esta página.

 

Chuva sobre agulhas de cipreste

Sobre o livro José Albano – 40 Anos de Fotografia

Quase todas as fotos desta edição já foram vistas em exposições individuais, separadas conforme o tema. Foram reunidas pela primeira vez na palestra “Fala de Artista” que apresentei no Centro Dragão do Mar em 2004 e repeti, com alguns retoques, no Alpendre, a convite do Gentil Barreira numa das noitadas do projeto “Foto biografia” em 2006. Com mais alguns retoques e a ajuda do olho experiente da Patrícia Veloso, a “mãe” deste livro, e alguns pitacos da Emília, chegamos finalmente a esta edição, processo longo e penoso no meio de tantas fotos!

Não quero dar a este texto um tom de memória póstuma, mas é inegável o fato de estar me debruçando sobre o passado. Estamos revendo, aqui, fotos representativas de um trabalho de pouco mais de 40 anos, minha fase analógica, química, enquanto retomo minha carreira, agora, no processo digital. É inegável, também, o fato do melhor ter ficado para trás… É sabido que, pelo menos para o grande público, o que sobra do trabalho de um fotógrafo se resume a 15 ou 20 imagens antológicas, premiadas, amplamente divulgadas em publicações diversas, seu trabalho mais conhecido. No meu caso, tenho certeza de que essas fotos já estão aqui, mesmo que misturadas a outras tantas, para o livro, digamos, ganhar corpo…

Preciso, ainda, desfazer um possível equívoco: se a maior parte desta edição se compõe de fotos em preto e branco, será que isso indica uma preferência expressiva da minha parte? Não quero deixar essa impressão, até porque
comecei fotografando em cores, e a maior parte do meu arquivo é colorida. Entendo o que cada sistema de captação de fotos tem de vantagens e desvantagens, sejam técnicas, sejam estéticas, e quero deixar claro que utilizo e amo os dois sistemas!

Embora adepto da filosofia do francês Robert Doisneau que diz que o fotógrafo deve manter o silêncio, deixando suas fotos falarem por si, além desta introdução, abro cada capítulo com um texto que localiza cada tema no tempo e no espaço, podendo enriquecer sua apreciação. Há, ainda, uma análise detalhada de uma das minhas fotos favoritas da Europa, um desembarque de gôndola em Veneza. Leia quem quiser!

Como eu fotografo

 
 Tenho fotos que eu crio, tenho fotos que acontecem na minha frente e que capto com mais ou menos interferências, tenho fotos onde o espaço domina, tenho fotos onde o tempo domina, tenho fotos onde o assunto domina, tenho fotos onde a técnica domina – tenho fotos onde se somam, em infinitas combinações, todos esses elementos.
 
vento leste print

 

Nunca me preocupei em definir um estilo para o meu tra-balho e não creio ser dono de uma forma pessoal e única de registrar o mundo. Assim mesmo, percebo no meu trabalho uma disciplina, um cuidado na composição dos elementos que ocupam o espaço da foto, um apuro técnico a serviço da imagem real, onde o conteúdo é mais importante do que a forma. E esse conteúdo envolve, quase sempre, a vida humana, fonte inesgotável de inspiração para mim. Entendo que muito da fotografia é subjetivo, depende das minhas escolhas pessoais de equipamento, controle de luz, enquadramento, ponto de vista, momento do click… mas não gosto de efeitos especiais provocados por filtros, filmes inadequados, objetivas de comportamento irreal, tratamentos posteriores para alterar resultados…Ao mesmo tempo, não sou adepto da escola francesa que vê o mundo sempre dentro do retângulo de proporções fixas da câmera de 35mm: corto à vontade as minhas fotos, raramente respeitando o quadro cheio do negativo original.

O que almejo é que a minha fotografia seja o mais parecido possível com a vida, com o melhor que a vida tem a mostrar. Persigo, ainda, no meu trabalho, como procuro no dos colegas, uma qualidade que eu chamaria de “permanência”, uma qualidade que ajuda uma fotografia a vencer o teste do tempo, não se tornando cansativa ou banal como frequentemente acontece com imagens que são fruto de um modismo passageiro.

Poderia resumir dizendo que, nas minhas fotos, procuro sempre fazer o casamento entre a realidade e a beleza.

assinatura final

3 comentários

  1. Zé,
    essa foto tinha na casa do meu pai????


  2. gosto muito de suas fotos obrigado…humberto


    • Grato pelas palavras gentis! Abraço do José Albano



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